Muito já se discutiu sobre o termo “brega”. Vamos aqui combinar um recorte: música brega é aquela que pega pelo sentimental, romântica ao extremo e que, principalmente, fala sobre detalhes da vida pessoal de qualquer um. Qualquer um mesmo! Até o mais safado dos crápulas ama. Nem que seja só seu filho, mas ama.
Vi, com atraso, o filme “Vou Rifar meu Coração”, da diretora Ana Rieper. Ela desbrava os interiores do Brasil atrás de histórias que ilustrem grandes sucessos de figuras como Lindomar Castilho, Amado Batista, Nelson Ned, Wando, Odair José e outros mais contemporâneos, como Gaviões do Forró e Walter de Afogados (do hit “Morango do Nordeste”, lembra-se?).
O filme tem suas falhas. No intuito de mostrar anônimos ao lado destes nomes conhecidos como se fossem todos “do povo”, não há legendas em nenhum momento. Não se sabe quem está falando e nem onde. É preciso “pescar” essas informações em placas que aparecem em pequena parte das cenas. A intenção de igualar todos no universo da música brega foi boa, mas ficou devendo na execução.
Independente disso, o universo da música brega é gigante e rico. E Odair José mata todas as charadas para entender o alcance das suas músicas e de seus colegas. Diz ele que a música brega não precisa de aprovação de uma certa elite e que chega diretamente ao coração dos ouvintes. Seria a Música Verdadeiramente Popular Brasileira, e não uma Música Popular de Ipanema (citando um exemplo do que seria essa elite).
Lindomar Castilho ajuda: diz que todos amam. E, por isso, esse tipo de música é tão universal.
E essa é a chave. A música brega fala da vida das pessoas. Do amor, da desilusão, dos problemas… e assim alcança a todos com mais facilidade.
A música brega não aceita preconceitos. Nós, urbanos, nos achamos no direito de julgar músicas que não são feitas para nós e para o nosso universo. A música popular é feita, principalmente, para lugares em que a relação das pessoas com o tempo é diferente, onde é possível matar uma boa dor de cotovelo no balcão de um boteco cantando Amado Batista num karaokê daqueles de ficha. Onde houver um palco que caiba um teclado e um microfone, haverá alguém cantando uma música brega para uma audiência que dança juntinho e que torce para não sofrer dos mesmos males que aquele cantor. Onde houver caminhoneiros, puteiros de beira de estrada e circos (destes que rodam o país), haverá música brega.
Quando tal música cai nos ouvidos de gente que não está preparada para abrir seu coração, ela vira motivo de chacota, de graça. O termo “brega” se torna pejorativo e é renegado. Um daqueles prazeres proibidos que você tem quando chega em casa.
Difícil ouvir essa música de Nelson Ned, que abre o longa, e não reparar nos detalhes do seu arranjo e na riqueza da sua produção:
“Vou Rifar meu Coração” serve como uma porta de entrada para quem quer conhecer este vasto universo. E se, de fato, o expectador se sentir preparado, só passar no SEBO mais próximo e procuras as pérolas do brega. Ou da música romântica, como preferir.