Se há uma geração incompreendida na música brasileira é a que fez sucesso entre o fim dos anos 1960 e fim dos anos 1970.
Eles são colocados no bolo do brega, junto com Bartô Galeno, Odair José e outros. Mas o som, em muitos casos, é rock, com influência direta da Jovem Guarda (e da sonoridade do rock italiano e francês). Como os artistas são muito “lado B” para serem considerados do movimento de Roberto e Erasmo – que já havia perdido força –, acabam sem uma categoria muito definida e caem no bolo citado acima.
A ida de Roberto Carlos para a música romântica, em definitivo, em 1972, foi decisiva para o fim da Jovem Guarda. E aí sem o “Rei”, tais nomes não conseguiram manter o movimento em pé, mesmo com o sucesso popular absoluto que faziam. O sertanejo começava a ganhar espaço, assim como o onipresente brega.
Fiz uma lista, bem às pressas, de algumas dessas figuras. Repare nos arranjos e perceba que o lance é rock.
Claudio Fontana – “Adeus, Ingrata”
Autor de sucessos na voz de Wanderley Cardoso, nome que, efetivamente, fez parte da Jovem Guarda.
Evaldo Braga – “Sorria, Sorria”
Evaldo Braga foi vendido como “ídolo negro” num período em que Simonal já não dava mais as cartas – estava sendo perseguido pela imprensa e por outros artistas devido a sua suposta colaboração com o regime militar. Braga tem apenas dois discos e morreu tragicamente aos 27 anos de idade.
Paulo Sergio – “A Última Canção”
Chegou a ser cotado como o substituto de Roberto Carlos na Jovem Guarda. “A Última Canção” é de 1967. Outro que morreu precocemente, aos 36 anos.
Marcio José – “O Telefone Chora”
Versão de “Le Téléphone Pleure”, do francês Claude François. Afinal, não é Jovem Guarda se não tiver boas versões. Dessa lista, Marcio José é o nome que tem menos informações na internet – e, quando tem, são desencontradas.
Nilton Cesar – “A Namorada que Sonhei”
Outro que ia na cola de Roberto Carlos – perceba o tecladão à lá Lafayette (o tecladista “oficial” da Jovem Guarda) em “A Namorada que Sonhei”, sucesso de 1969.
Fernando Mendes – “Cadeira de Rodas”
O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira coloca Fernando Mendes no mesmo grupo que Sidney Magal, Gilliard e Martinha. Pela popularidade, que chegou forte até os anos 1980, pode até ser. Mas sua música é profunda, com temas nada festivos. Com Fernando Mendes não tem cigana Sandra Rosa Madalena e muito menos pulgas e percevejos. Aqui, o lance é “Cadeira de Rodas” mesmo, um dos hinos da acessibilidade no Brasil.
Antonio Marcos
Creio que seja o maior nome dessa lista, tanto que merece mais de uma música no destaque. Compositor de mão cheia, abastecia não só os seus discos como os dos colegas citados acima. Chegou a fazer parte da Jovem Guarda com o grupo Os Iguais e seu primeiro grande sucesso solo foi uma composição de Roberto e Erasmo: “Tenho um amor melhor que o seu”.
“Porque Chora a Tarde” tem um dos refrões mais fortes que eu conheço. E que voz! Emocionante.
Em “Eu Precisava Conversar com Deus”, a melancolia toma conta.
“O Homem de Nazaré”, composição de Claudio Fontana, foi um dos seus hits nos anos 1970, ganhando até versão em espanhol.
“Quem dá Mais” é profética: Antônio Marcos vive em 1996, num mundo dominado por computadores e de pessoas sem fé, que mal se falam. Ele, um homem “antigo”, é vendido num leilão. Num trecho do refrão, ele pergunta: “Quem dá mais por um louco que discorda do computador?”. A música é de 1977.