Memórias musicais – aborígenes australianos e Dinamite

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Não sei o motivo, mas desde ontem estou desenterrando memórias musicais que vem de antes de eu me interessar de verdade por música.

A primeira veio ontem, no trabalho, quando estava ajudando um amigo a pesquisar sobre um instrumento musical utilizado por monges no Butão (!!!!). É como um berrante, só que sem as curvaturas. A pessoa pode tocar sentada e alguns “modelos” são tão grandes que pode-se toca-lo em pé, com a sua ponta no chão. Na hora me veio à cabeça um banda australiana que fez um certo sucesso no meio dos anos 90.

A banda é a Yothu Yindi e não seria tão exótica se ela não fosse formada por aborígenes australianos. Sua turnê chegou ao Brasil, numa época em que outras bandas australianas (mais normaizinhas que essa) não saiam daqui. Se apresentaram até no extinto Programa H, do Luciano Huck, na época ainda um playboyzinho metido a apresentador na TV Bandeirantes, mas que trazia boas atrações no seu programa (Sepultura, Ratos de Porão, Jota Quest – no comecinho, etc).

Me lembrei dessa banda porque seu principal instrumento era um didgeridoo, quase igual ao instrumento dos monges butanenses. O didgeriddo é típico dos índios aborígenes australianos e essa banda incorporou seu som a um estilo pop. Nesse vídeo do You Tube, seu principal “hit”: “Superhighway”. Note o som do didgeridoo durante a música (no comecinho está bem aparente):

Agora, outra memória musical me ocorreu hoje. Essa é pros mano.

O rap nunca foi um estilo fácil de ser acompanhado. No rádio, fora programas específicos (indico o Espaço Rap, da 105 FM), você só ouve o chamado “rap mainstream” dos EUA, com suas negras loiras e turbinadas e rappers mais posers do que o Jon Bon Jovi. Na década de noventa, existia o Espaço Rap Brasil, da Metropolitana FM e também as coletâneas Dinamite.

Um dos CDs da coletânea anual e seu simplório design

Anualmente, saia um CD Dinamite. Uma coleção com os grandes destaques do rap gringo naquele ano. Não tenho idéia de quando começou (a mais antiga que eu conheço é de 97). Também não sei se era “oficial”. Tinha lá o selo de uma gravadora e tal, mas pela simplicidade das capas e da arte dos CDs, parecia mais uma coisa meio caseira, só que vendida em grande número. Enfim, por essas coletâneas, pode-se saber que existia Snoop Dog (ainda Snoop Doggy Dog), Tupac, Mad Lion, Queen Latifah e outros nomes que bombavam lá fora, mas mal chegavam aqui. Abaixo, “Real Ting”, do Mad Lion.

Enfim, duas memórias que não têm nada a ver uma com a outra e que apareceram do nada. Hoje vou dormir um tiquinho mais alegre, ouvindo alguns Dinamites que consegui baixar. Aliás, não consigo achar de jeito nenhum o álbum do Yothu Yindi que tem essa música (chama-se “Birrkuta – Wild Honey”, o disco). Se você for um admirador de bandas aborígenes australianas e souber onde tem, me avisa! ;)

12 comments

  1. Olá Marcos,

    Muito interessante você falar dos CDs Dinamite e vou contribuir com meu conhecimento sobre o mesmo, o qual pode ser comprovado com simples pesquisas na internet.

    1) O CD de fato era ilegal pelo fato de não haver licença de uso das músicas e consequentemente não havia repasse de direitos autorais aos artistas gringos.

    2) Pelo motivo acima, os primeiros volumes da coletânea Dinamite costumavam trazer os nomes corretos de intérprete e música, no entanto, após o esquema ser descoberto, tornou-se comum ver os CDs com nomes escritos propositalmente errados, de maneira grotesca até, exemplo: no lugar de "Rihanna – Rehab", poderia estar escrito "Riana – Rerab".

    3) O CD tinha capa simples, porém, superior a CDs piratas de camelô e melhor que várias coletâneas semelhantes também ilegais, por esse motivo, os CDs Dinamite podiam ser encontrados na rede de supermercados D'avó por exemplo.

    4) A única ilegalidade era referente as músicas, mas em outras questões, a comercialização seguia todo o ritual de CD legal e por isso era encontrada em quase todas as lojas de CD de São Paulo e outros lugares do Brasil. O D'avó comercializou por pouco tempo, pois começaram a estourar os escândalos, já que a Polícia Federal, nos primeiros anos dessa década, passaram a fiscalizar mais ostensivamente ilegalidades do tipo, ou seja, Crime Organizado para Pirataria Musical e não mais somente os camelôs e os chineses.

    5) Nos últimos anos em que a coletânea ainda tinha força, deixou de ser prensada em fábricas de CD (chegou a ser prensada nos EUA) para ser comercializada em CDs Graváveis com silkagem em cima, pois o governo brasileiro pressionou as fábricas para que fossem mais exigentes nos critérios na hora de aceitar encomendas de clientes e os documentos forjados que eram utilizados na hora de encomendar prensagem passaram a "não colar mais".

    6) O bizarro nessa história é que, essa coletânea gerava pelo menos dois níveis de pirataria, tendo em vista que os Chineses pirateavam esses CDs tidos por grande parte da população, durante anos, como sendo "originais".

    7) O CD Dinamite como conhecemos nos últimos 10 anos veio do lançamento da primeira edição, chamada "Dinamite – 15 Anos", CD produzido para comemorar os 15 anos da equipe de som Dinamite, que faz parte da história da Black Music em São Paulo, assim como Kaskata's, Black Mad, Chic Show e outras. A equipe Dinamite já havia lançado legamente, ainda nos anos 80, coletâneas similares, por meio de outras gravadoras conhecidas.

    8) Entre o final da década de 80 e início da década de 90, a equipe Dinamite criou uma gravadora própria, ou seja, tal como a Furacão 2000 no Rio de Janeiro chegou lançar pela Som Livre e hoje lança diretamente, a Dinamite criou a TNT Records, no intuito de lançar os rappers nacionais que cantavam em seus bailes, no entando, na metade da década de 90, o "grupo empresarial" que se formara passava por dificuldade financeira, de um tal modo que a gravadora estava abrindo apenas uma vez por ano para lançar o álbum de um único artista e somente a equipe Dinamite é que ainda lucrava de fato, daí resolveu lançar seu primeiro disco ilegal e obteve expressivo resultado comercial, encorajando o lançamento de novos volumes da coletânea e de vários outros produtos semelhantes.

    9) Na verdade, os CDs de maior resultado, lançados por esse pessoal, são: Dinamite e Black Total, eram lançados anualmente com 6 meses de intervalo de um para o outro.

  2. 10) Além da gravadora TNT Records e seus selos, inclusive um chamado Warlock Records, usado durante anos para assinar os CDs ilegais até que a perseguição por parte da PF tornou-se frequente obrigando o uso de outros selos, a Dinamite possuia a rádio RCP FM, cuja sigla se manteve um enigma durante anos e em meados de 2005 passaram a ser veiculadas vinhetas que diziam "RCP – Rádio Comunitária do Povo", embora fosse um verdadeiro "balcão de CDs" legais e ilegais, atendendo aos artistas nacionais da TNT e aos selos das coletâneas de música internacional. A rádio está no ar há mais de 10 anos, pois foi criada juntamente com as famosas coletâneas para divulgá-las, porém, conforme o crescimento do esquema, a rádio teve aumentos de potência até atingir 5.000 watts e, segundo vários profissionais de rádios famosas em São Paulo, foi a rádio pirata de maior êxito em audiência na história da cidade.
    Principalmente pelo fato de que rádios como Jovem Pan, Transamérica e similares não viam a Black Music como vêem hoje e tocavam esporádicamente um ou outro que realmente estivessem na crista da onda, especialmente do jabá. Sendo assim, durante anos, o Brasil ficou conhecendo apenas Coolio, Shaggy, Will Smith e mais meia dúzia, enquanto a RCP trazia tudo aquilo que as rádios Black americanas tocavam e que faziam sucesso em danceterias no Brasil, basicamente nas periferias.
    Havia tamanho preconceito por parte de nossas grandes rádios que, após a Band ter tido uma experiência de ser uma espécie de rádio Black brasileira, a Líder FM, logo que transferiu seu estúdio para a Rua Eça de Queiroz lançou o Slogan: Líder – Cheia de Charme, pois queria tornar-se a rádio Black na segunda metade da década de 90, contudo, tocando o lado mais light possível da Black Music e talvez abrindo espaço para vertentes mais pesadas em horários e dias alternativos.
    A tentativa fracassou, eles não conseguiram encontrar um formato adequado ao Brasil e somente a RCP obteve êxito de audiência, inclusive bem superior ao deles, embora não precisasse de anunciantes e praticamente nem os tinha, já que a única fonte de receita da rádio além da publicidade de CDs ligados a ela, era o arrendamento de poucos horários para outros grupos que atuavam de forma semelhante a eles e que não possuiam rádio própria.

  3. As coisas mudaram bastante nos últimos anos e apesar de São Paulo não ter sequer uma rádio Black de forma legal, tal como é comum nos EUA há muitos anos, ao menos as grandes rádios passaram a ver com interesse e hoje em dia, Black Music é indispensável na receita de qualquer rádio jovem e/ou Pop. Exemplo disso é que a Mix FM, que sempre evitou tocar música eletrônica em sua programação normal, justamente pra tentar se diferenciar um pouco das demais rádios Pop que apostam na combinação: Rock, Pop e Dance, passou a incluir Black Music assim como as outras em razão de ser um tipo de música que transita muito bem entre a alta sociedade e a periferia, coisa que antes do CD "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's, o qual trazia a música "Diário de Um Detento", era inimaginável.

    Essa música simbolizou uma divisão de águas e marcou um momento em que era comum ver rapazes de classe média ou alta ouvindo músicas do tal grupo e por consequência natural, coletâneas como Dinamite e similares. Enfim, incluir Black Music, ainda que seja o lado mais comercial, contribui muito para o resultado da Mix e também da Transcontinental, que era uma rádio especializada em Samba e Pagode, mas que nos últimos anos, em razão da perda de evidência desses ritmos, foi obrigada a tomar atitude semelhante a da Mix e tocar Beyoncé entre uns pagodes.

    É isso aí, espero ter contribuído mostrando o tamanho da importancia desta coletânea, não somente em nossa juventude, mas como algo que fez parte de uma transformação musical, cultural e principalmente comercial nas rádios do Brasil, que até mudaram seu posicionamento sobre o que era tido antes como: "coisa de favelado", entre outras pejoratividades. Processo semelhante ao ocorrido nos EUA, embora lá tenha sido há muuuito mais tempo e aqui só falta uma rádio especializada, que seja viável economicamente, já que, nos tempos atuais, não dá pra viver de CDs como a RCP viveu e, pelo menos por enquanto, precisasse de anunciantes, tal como ocorre no modelo de negócio adotado pelas demais rádios.

    Edmauro

  4. Um detalhe que esqueci de dizer:

    Essa capa está incorreta, pois o CD tinha simplicidade apenas no sentido de não possuir páginas internas em seus encartes dos últimos volumes lançados, embora isso era diferente nos primeiros volumes, que costumavam trazer as fotos dos artistas que podiam ser ouvidos nos mesmos.

    A capa original do Dinamite 99 foi um marco na época, já que era um momento em que os Piratas Chineses já haviam consolidado a pirataria dos CDs produzidos pela Dinamite e, além do Selo Holográfico de "Autenticidade" que eles mesmos encomendaram a criação exclusivamente para o CDs deles, presente nos volumes anteriores, o Dinamite 99 trouxe uma capa bem diferente das anteriores para se diferenciar definitivamente das cópias das bancas, que algumas lojas começavam a vender como se fosse o CD "original" e esse tinha custo semelhante aos CDs verdadeiramente legais e custo de produção consideravelmente maior que os de banca, mas as lojas podiam comprar a cópia chinesa por menos de R$ 5,00 cada, com capa bem impressa e vender por R$ 20,00.

    A capa do Dinamite 99 trazia seu nome escrito em alto relevo e aplicado um processo em que as letras foram banhadas em cor dourada, porém, não era impressão fosca, brilhava como ouro mesmo na luz. Esses diferenciais passaram a ser divulgados na rádio de propriedade deles, numa campanha ostensiva que pedia ao ouvinte pra "não se deixar ser enganado", inclusive chegaram a questionar o ouvinte em algumas chamadas, se o mesmo sabia o que significava a CD-R, que dava nome ao tipo de CD usado na produção das cópias encontradas nas bancas e em seguida se propunham a explicar o significado como sendo: "CD-Ruim" rs rs

    Tal como eu disse nos comentários anteriores, anos depois, ironicamente, eles se viram obrigados a usar CD-R.

    A capa original do Dinamite 99 pode ser vista no link abaixo:
    http://3.bp.blogspot.com/_e8KOb0g-kP8/R_WOhc-uX-I/AAAAAAAAA-4/SV-KmBwuL-4/s1600-h/Frente.jpg

    Sinceramente, eu não tinha nem reconhecido esse CD pela capa e fiquei até confuso quando o vi, pois quem conheceu os CDs na época, nunca o viu com capas de fato amadoras. Depois pesquisei na internet pra entender pq aqui a capa estava desse jeito, gerando até uma observação em seu texto que não condiz muito com a realidade da época, já que o grande "barato" era o fato dos CDs serem interpretados por muitos como algo "legal", ou seja, eram longe de serem capas amadoras.

    Essa capa que está no texto do blog, pelo que pude ver no Google (ao encontrar também a contracapa), é uma re-edição, feita pelo dono de um Blog de Downloads (assina como "DJ Emir") e esse apenas fez uma capa apropriada pra impressão de baixo custo (já que não possui nem sequer foto), provavelmente pq não tinha a capa original pra disponibilizar ou outro motivo.

  5. Pô, Edmauro. Não tenho nem como te agradecer pela aula. Muito bom mesmo.

    Sobre o lance da capa: A única da qual eu me lembro mesmo, como se tivesse visto hoje, é a capa do Dinamite 15 Anos e ela é bem simples, com cara de montagem amadora (até para época, sem comparar com hoje em dia). Então, acabei vendo essas capas do DJ Emir (aliás, pensei até que você pudesse ser ele, sem o pseudônimo… heheh) e pus essa impressão no texto. Mais uma vez, obrigado pela correção.

    Estou cada vez mais ligado em rap nacional e por isso acabei "viajando" para as coletâneas da Dinamite, que acabaram fazendo eu conhecer o verdadeiro hip hop gringo. Sem elas e o programa da Metropolitana que eu cito, eu ficaria só na black music da Jovem Pan (que não é ruim, mas também não é exatamente a real).

    Um abraço!

  6. As coisas mudaram bastante nos últimos anos e apesar de São Paulo não ter sequer uma rádio Black de forma legal, tal como é comum nos EUA há muitos anos, ao menos as grandes rádios passaram a ver com interesse e hoje em dia, Black Music é indispensável na receita de qualquer rádio jovem e/ou Pop. Exemplo disso é que a Mix FM, que sempre evitou tocar música eletrônica em sua programação normal, justamente pra tentar se diferenciar um pouco das demais rádios Pop que apostam na combinação: Rock, Pop e Dance, passou a incluir Black Music assim como as outras em razão de ser um tipo de música que transita muito bem entre a alta sociedade e a periferia, coisa que antes do CD “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MC’s, o qual trazia a música “Diário de Um Detento”, era inimaginável.
    Essa música simbolizou uma divisão de águas e marcou um momento em que era comum ver rapazes de classe média ou alta ouvindo músicas do tal grupo e por consequência natural, coletâneas como Dinamite e similares. Enfim, incluir Black Music, ainda que seja o lado mais comercial, contribui muito para o resultado da Mix e também da Transcontinental, que era uma rádio especializada em Samba e Pagode, mas que nos últimos anos, em razão da perda de evidência desses ritmos, foi obrigada a tomar atitude semelhante a da Mix e tocar Beyoncé entre uns pagodes.
    É isso aí, espero ter contribuído mostrando o tamanho da importancia desta coletânea, não somente em nossa juventude, mas como algo que fez parte de uma transformação musical, cultural e principalmente comercial nas rádios do Brasil, que até mudaram seu posicionamento sobre o que era tido antes como: "coisa de favelado", entre outras pejoratividades. Processo semelhante ao ocorrido nos EUA, embora lá tenha sido há muuuito mais tempo e aqui só falta uma rádio especializada, que seja viável economicamente, já que, nos tempos atuais, não dá pra viver de CDs como a RCP viveu e, pelo menos por enquanto, precisasse de anunciantes, tal como ocorre no modelo de negócio adotado pelas demais rádios.
    Edmauro

  7. VOces poderiam listar os nomes das musicas do dinamite 98 e 99?

  8. oi alguem sabe o nome da musica que tem uma mulher cantando com uma menina so lembro que a menina falava mamy ai a mulher dizia yes baby sei la é q ta dificil eu era nova e nunca mais ouvi essa musica em lugar nenhum me ajudemmmmmmmmmmm

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