“Mas você não está falando sério, né? Tá tirando onda!”.
Isso é o que eu costumo ouvir quando digo que ouço – e gosto – de funk. Sim, o batidão, aquele que veio do Rio mas faz bastante barulho aqui em São Paulo e no sul do país. A frase acima vem logo depois da cara de reprovação, parecida com essa que você está fazendo agora.
Essa reprovação e causada, em 90% das vezes, por puro preconceito. Não quero convencer ninguém de que o funk é bom, até porque isso passa por julgamentos pessoais. Também não tenho procuração de funkeiro para defender o gênero. Mas a maioria das pessoas sequer ouviu uma música inteira e já diz não gostar. Preconceito, medo ou preguiça.
Sim, há o sexismo, a pornografia e o chamado proibidão – bancado pelo crime e que exalta a bandidagem. Mas isso tem em muitos outros gêneros. Ninguém nunca deixou de ouvir rock por conta desses motivos – e eles existem.
No estado de São Paulo, o que bomba no momento é o chamado “funk ostentação”. Sai o sexismo e entra a grana. Baseados no estilo dos rappers norte-americanos, MCs aparecem em videoclipes com correntes de ouro e prata, carrões importados, motos esportivas e belas garotas de biquíni em casas com piscina.
A mensagem é vazia? Sim, demais. Nada se aproveita das letras. Mas é um som para esse momento mesmo. É pras festas, pros bailes e pra curtir, só isso. Quantas bandas de rock ou artistas de MPB não têm o mesmo propósito? Só que seus gêneros permitem isso sem que eles sejam crucificados pelos ouvintes.
Além do que, o funk é um gênero musical da periferia. Ele não precisa da aprovação de nenhuma elite – financeira, intelectual, etc – para fazer sucesso. O funk é simples e se utiliza de beats e samplers para ser construído. Os projetos sociais que ensinam música para a molecada são poucos e atendem uma parcela mínima desses jovens. Talvez se eles tivessem acesso a um violão ou um piano, em vez de funk teríamos outra coisa. Mas não é assim. Um sampler MPC é muito mais fácil de ser “operado” do que um violão e nele se constroem as musicas. Se o tema das letras é vazio, falta educação. É que a gente tem mania de culpar a vítima. É o funkeiro que é “nojento”, não a condição que foi criada para que ele se tivesse baixa instrução.
Enfim, alguns exemplos do som que rola hoje nas periferias. Com a nossa aprovação ou não:
– MC Bola – Ela é Top
Basta um rolê básico pela zona leste para ouvir esse som saindo dos falantes dos carros. O verso definitivo é “ela é top, arrasa no look/tira foto no espelho pra postar no Facebook”.
– MC Rodolfinho – Como é Bom ser Vida Loka
Moleque de tudo, MC Rodolfinho acabou de fazer 18 anos. De Osasco, começou a fazer funk de brincadeira e, quando foi ver, seu som já estava tocando nos carros que passam na sua rua. Hoje, faz cerca de 3 a 5 apresentações por noite.
– MC Beyoncé – Fala Mal de Mim
A conversa entre as meninas adolescentes virou música. Mexeu com o namorado da MC Beyoncé e ficou com invejinha pra cima dela, a porrada come.
Agora dá uma olhadinha na abertura do show da Beyoncé no Expresso Brasil, casa de shows na Aricanduva, Zona Leste de São Paulo. Lugar lotado e todo mundo cantando junto:
– MC Guime – Tá Patrão
“Tapa tapa tapatrão”. Sucesso.
– MC Boy do Charme – Mégane
Imagina nóis de Mégane ou de 1100! O puro creme do funk ostentação! Tem Euro, Dólar e notas de R$ 100.
– MC Daleste – Deusa da Ostentação
O encontro entre o vilão e a bandida.
– MC Nego Blue – É o Fluxo
“Mandei uma mensagem lá no seu ID/disse que já tá pronta pra ir pro rolê”. Nextel bomba no funk ostentação!
É isso. Se deixar de preconceito, pelo menos o ombrinho você balançou com essas músicas. Se não, tranquilo… mas lembre-se de que o “sofisticado” jazz já foi música de gueto também.
mc taisinho coisa de rico
http://www.youtube.com/watch?v=jJrIslQCGsk