Mamô é uma pessoa muito ligada em música. Como eu, é eclética. Bem no comecinho do namoro, ela disse que a gente era o casal perfeito, que podia dividir o iPod dela sem pular nenhuma faixa ou reclamar. Mas eu sou muito mais chato e criterioso! Ela ouve até essas músicas que as pessoas normalmente têm vergonha de admitir que ouvem. E eu acho isso muito engraçado, porque, estando com ela, eu acabo ouvindo também e fico dando risada, com cara de reprovação.
Então, desde o início da internação, nossa idéia foi deixar um mp3 player lá, pra ela ficar ouvindo um sonzinho. Com certeza, isso ajuda muito nesse tipo de recuperação, neurológica. Num primeiro momento, a gente levava e ligava só um pouquinho no horário de visita mesmo. Até porque a enfermeira não aconselhou deixar o iPod dela no hospital. Nem pelo fato de alguém pegar, mas é que poderia ir algum dia no meio da roupa para lavar e aí já viu…
A gente comprou semana passada um desses players baratinhos, de R$ 30, que tem FM também e deixou lá. Agora mamô ouve um pouquinho de música em vários momentos do dia. Quando a gente sai da visita, deixa lá tocando. E a enfermagem coloca também durante o dia.
Hoje, ao invés de deixar os mp3 tocando (pra ter uma idéia da variedade, tem de Justin Timberlake a Chico Buarque, passando por Maria Bethânia e Mika!), coloquei numa rádio que sei que ela gosta. Bem na hora em que eu sintonizei o rádio, estava tocando uma música que ela ama. Era “Every Little Thing she does is Magic”, do Police, de 1981. Num dos primeiros e-mails que mandei pra ela, inclusive, eu brinquei com o título dessa música e escrevi “cada coisinha que você faz é mágica”.
Coloquei rapidinho no ouvido dela e me despedi. Deixei ela lá com um sonzinho do bom na orelha, pra aliviar um pouco os pensamentos. E tenho a absoluta certeza de que ela adorou a música. Quando ela acordar de vez, vou poder dizer que cada cada pequena vitória, cada movimento, cada respiração, cada coisinha que ela fez (e faz) é mágica.