O chão de estrelas de Silvio Caldas

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Estou ouvindo (bem) aos poucos a coleção Raízes da Música Popular Brasileira, da Folha de S. Paulo. Afinal, são 25 CD, além dos livretos que os acompanham. Um material editado por Carlos Calado, que fora responsável também pela CDteca com os mestres do jazz, no mesmo jornal.

Hoje foi a vez de eu pôr para tocar o CD dedicado a Silvio Caldas. Um compositor e cantor de uma época em que os microfones mal eram amplificados. Ou seja, o sujeito tinha voz ou não tinha. Ou aliava potência vocal à qualidade ou simplesmente não cantava. A voz era gravada nos sulcos dos vinis praticamente no fórceps, tendo que soar mais alta do que os instrumentos.

A faixa que abre o CD é “Chão de Estrelas”, na interpretação de Maria Bethânia, uma das canções mais poéticas e visuais da MPB (que, nesta época, ainda não se chamava assim, mas era, de fato, popular). A faixa já foi gravada por dezenas de artistas, incluindo Nelson Gonçalves, Baden Powell, Maysa e Jair Rodrigues, resultando na presença da faixa em mais de 40 discos.

Abaixo, uma versão ao vivo com a Bethânia, que recita um texto de Fernando Pessoa na introdução:

A letra fala de uma desilusão, que se junta com a vida do “palhaço das perdidas ilusões” no morro do Salgueiro, Rio de Janeiro. A amada se foi e ficaram as lembranças do dia a dia pobre e ao mesmo tempo completo com a presença da cabrocha.

Em 1978, num especial da TV Cultura, Silvio Caldas cantou sua criação (que foi composta em parceria com Orestes Barbosa):

“Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída”

Impossível não visualizar este trecho da música. O teto de zinco, furado, deixa passar a luz do luar, que forma uma verdadeira constelação no chão de terra batida. Era como se o casal vivesse flutuando, andando nas nuvens, naquela realidade pobre e simples, mas que não precisava de mais nada: o amor existia ali.

Mas em 1970 existia um grupo que nasceu para avacalhar. Com arranjos do maestro Rogerio Duprat, Os Mutantes regravaram “Chão de Estrelas” no disco A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado. Arnaldo Baptista encarna um vocalista canastrão, que parece tirar sarro da triste letra. Isso em meio a recortes sonoros que só Duprat conseguia fazer tão bem nesta época de parcos recursos tecnológicos. Uma construção complexa. E um estilo que pode ter incomodado fãs da faixa e de Silvio Caldas. Mas a função d’Os Mutantes era essa. Então, missão cumprida.

3 comments

  1. nosssa essa musica é um lixo so to vendo ela por causa de um trabalho do colegio com a minha amda proff que nao posso fala o nome mais é linda <3

  2. Como você pode achar uma música maravilhosa, cheia de sentimentos e expressão um “lixo” ??? É triste saber que obras tão incríveis como essa estão totalmente desvalorizadas :(

  3. Um lixo é um comentário como este. A letra é linda, poética, carregada de sentimentalismo. Parabéns ao compositor pela criação e acima de tudo pela linda interpretação de Bethânia.

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