“Eu não sei. Todo mundo é muito maníaco hoje em dia. Vou te contar. Existem as putas de 13 anos andando nas ruas neste momento. Isso não aconteceria cinco anos atrás. Não com drogadas de 13 anos de idade. É muito diferente hoje em dia. Eu te digo, o mundo inteiro está uma merda. Todo mundo tá fodido. Todo mundo usa minissaia, todo mundo balança o corpo, todo mundo lê todos os livros. Como diabos você vai superar tudo isso? Sofisticação, melancolia, é tudo. Todo mundo é muito melancólico hoje em dia”.
Primeiro, tente adivinhar quem e quando disse essa frase. Dica: É uma figura importantíssima para a cultura pop e o mundo da música.
Parece um pensamento recente, não? Dito ontem, ou em dezembro de 2008. A resposta foi dada a um repórter da revista Rolling Stone.
Mas estamos falando da revista Rolling Stone norte-americana. E do ano de 1969! O autor dessa sequência de frases tão atuais quanto inconformadas é Phill Spector. E quem as captou não foi apenas um repórter, mas o editor e fundador da matriz Rolling Stone, Jann S. Wenner e este trecho foi retirado do livro “The Rolling Stone Interviews”, publicado aqui no Brasil como “Rolling Stone: As melhores entrevistas da revista Rolling Stone” pela editora Larousse.
Voltando à declaração. A pergunta de Wenner foi “Qual vai ser a diferença, em sua opinião, entre o público de hoje e a reação do público à música hoje, se comparado há cinco anos?”. E Spector se mostrava pasmo em relação à velocidade das transformações que o comportamento humano sofria àquela época. E o mais curioso é que a sua resposta pode ser perfeitamente aplicada aos dias de hoje.
Como produtor musical, Spector reconhece a dificuldade que tem ao trabalhar para um público que (já em 1969!) consome muita informação e tem capacidade e liberdade para toma suas atitudes, por mais duras ou difíceis que sejam. Isso porque, veja bem, estamos falando de 1969! A essa altura do campeonato, os Beatles já haviam conquistado a América, Woodstock ainda reproduzia ecos, Jim Morrison já havia soltado seu lagarto interior palcos afora… as portas da percepção já estavam escancaradas e a música (seja de protesto, pra ficar doidão, etc) era essa maravilha que ouvimos até hoje, sem enjoar. Coisa que não acontece com o sucesso da semana passada, que já ficou velho.
Será que o problema, então, está no público? Sim, porque se Spector “reclamava” dessa maneira do público, exigente, em 1969, e mesmo assim ele e seus companheiros de profissão conseguiam produzir peças fundamentais para o rock e o pop, hoje falta profundidade. Por mais que o público continue com essa alta dose e velocidade de informação, hoje é tudo mais raso. Basta ver as notícias mais lidas nos maiores portais do Brasil, por exemplo. São assuntos rasos, que não demandam um esforço de pensamento e reflexão. E isso desagua diretamente na música. Os produtores identificam isso e criam sons pobres, com letras idem, que cansam facilmente o ouvinte que não tenha idade mental próxima dos 13 anos muito.
E há outra uma diferença entre o quadro pintado por Phil Spector em 1969 e hoje. As putas drogadas, hoje, chegam a ter 8, 9 anos.
Oi, Marcos! Acho realmente difícil emitir qualquer opinião sobre o que estamos vivendo no presente – por isso mesmo é que não se pode parar de pensar no que estamos vivendo! É ótimo ler coisas como essa e perceber que pouca coisa mudou – é o que eu acho. A gente constrói o que vive agora e o que viveu antes. Quanto à sua namorada, desejo força! Um abraço!