Por boa parte dos anos 1990, o Corinthians ficou hospedado no hotel San Raphael, no Largo do Arouche, para dali partir para os jogos realizados em São Paulo. E quase todo final de semana, lá ia eu para a porta do hotel ver os guerreiros corinthianos partirem para mais uma batalha. Flagrei ali pelo menos duas gerações de jogadores do Timão. Cito alguns, sem ordem ou critérios, conforme a memória vai mandando: Ronaldo (o goleiro), Adil, Viola, Paulo Sérgio, Marcelinho Carioca, Tupazinho, Neto e mais uma centena de outros.
Às vezes, eu pegava minha bicicleta BMX Surf e ia com ela. Na partida do ônibus (o Mosqueteiro III, pelo que eu me lembre), lá ia eu com a bike atrás, até o Pacaembu ou até a Consolação (quando o jogo era no Morumbi). Era um moleque-torcedor.
Com o passar do tempo, o amor pelo futebol se foi. Não deixei de ser corinthiano, mas acompanho muito menos o meu time do que antes. Acho que conforme fui conhecendo os bastidores do futebol, vendo que nem tudo era feito da forma romântica como eu pensava, fui me desencantando. Conheço muita gente com a mesma história, é até comum.
Mas eu invejo o torcedor. Aquele cara que é flagrado pelas câmeras chorando por causa de futebol, porque onze homens ganharam (ou perderam, o que torna tudo mais dramático). Não sei o que me falta, se é sensibilidade, tato, amor, mas eu não consigo perder um por cento da minha razão por conta de futebol. E, consequentemente, por causa do Corínthians.
Nesse centenário, comemorado hoje por todo o país (e porque não, mundo!), os torcedores comemoram também o anúncio do novo estádio, que será construído pela iniciativa privada para que a cidade de São Paulo não fique de fora da Copa do Mundo de 2014. E o que é motivo de comemoração para a massa, é uma mancha nessa data. A cidade de São Paulo não precisa de um novo estádio. O Corinthians não precisa de um estádio.
Mas a CBF queria derrubar o São Paulo Futebol Clube, seu eterno rival político. Então, usa o Corinthians para excluir o Morumbi dos planos do Mundial. E o Timão, na pessoa do presidente Andrés Sanchez, aceita o jogo, simplesmente joga o jogo. A decisão da CBF já foi tomada há muito tempo, desde antes do Sanchez ser escolhido como Chefe da Delegação da Seleção Brasileira na Copa da África do Sul. Naquele momento, as cartas já haviam sido distribuídas.
Essa jogada do estádio mancha uma trajetória que vinha muito bem para comemorar o centenário. A vinda do Ronaldo e toda a campanha que o rodeou foi uma lição de marketing esportivo para o futebol brasileiro. Depois, a chegada do lateral Roberto Carlos, que começou mal mas hoje é um dos jogadores que melhor veste a camisa do time. Tudo somando para um 1º de setembro inesquecível. Mas havia uma CBF no meio do caminho…
De qualquer forma, um centenário não pode passar em branco e tem que ser comemorado. Você, torcedor, vibre. Parabéns, Corinthians.
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