Mafaro, novo trabalho de André Abujamra, é megalomaníaco. E isso é um elogio

Posted by


Em sua história, André Abujamra nunca se contentou somente com a música. Quando criança, não queria tocar o que estava pronto e dava um toque performático ao criar suas próprias canções, para o desespero da professora de piano. Nos Mulheres Negras, formado em dupla com Mauríco Pereira, entrou o teatro, o humor.O Karnak e sua primeira formação, com 13 músicos, duas baterias e um cachorro, igualou a performance à música, em importância. Já na carreira solo, essa característica só se reforçou.

Agora, Abujamra solta seu terceiro disco, chamado Mafaro. O artista explica que o nome quer dizer alegria na língua do Zimbabwe. Mas em termos de línguas, André não tem nenhuma credibilidade. Ele, que já inventou um idioma (o davadara), pode ter sacado essa palavra de sua mente, dado um significado qualquer e atribuído ao pobre Zimbabwe. Mas isso não tem importância nenhuma quando se trata do resultado: o som.

Um CD megalomaníaco não podia se transformar em menos: um show-filme. Dez músicos no palco (mais um VJ) e quatro telões transformam o som num apanhado de vídeos Creative Commons que, somados às cenas gravadas especialmente para o show, criam uma atmosfera grandiosa e cheia de informação. Afinal, pra onde olhar? Para o André? Para o naipe de metais? Para qual das três telas do fundo do palco? Para a tela menor, em que os artistas “convidados” aparecem, holograficamente? Durma com um barulo desses…

A estreia mundial do projeto foi no último final de semana, no Auditório Ibirapuera. Do palco, somente sons de Mafaro… nenhum dos dois discos solo anteriores, ou Karnak e Mulheres Negras foi citado. E, mesmo assim, somente com sons novos, o repertório coube no roteiro e conseguiu levar a plateia de São Paulo para a África e os balcãs.

Mafaro, o CD, foi gravado em mais de 12 estúdios diferentes. Fora os sons captados em gravadores portáteis. Mafaro, o show-filme, tem a participação virtual de quase uma dezena de artistas. E a obra, como um todo, reflete os tempos atuais, em que retalhos aparecem na nossa frente, na internet. E cada um que se vire para formar um conjunto completo de referências e influências. Parece que André conseguiu. Com ajuda valiosa do Rapidshare, do BitTorrent e do PirateBay…

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *